sexta-feira, 31 de março de 2017

Monte Verde: físico usa símbolo do “amor eterno” em suas geléias

Diz a lenda, e esta talvez seja a mais conhecida delas, que jovens destemidos e apaixonados escalavam os alpes europeus da Áustria, Suíça, França, Itália e Iugoslávia, em altitudes acima de 1.700 metros, a procura da flor Edelweiss para presentear suas amadas. A espécie, só encontrada nestas regiões, é muito linda, tem a forma de estrela e seu nome significa “branco precioso”. De acordo com as várias histórias, esta flor misteriosa  se tornou o símbolo do “amor eterno”. Os que conseguiam trazer um buquê de Edelweiss provavam que eram valentes e merecedores do amor de sua amada. Não foram poucos os que não voltavam da arriscada aventura.

A Edelweiss é considerada flor símbolo nacional da Áustria e da Suiça e a preferida de alguns imperadores e imperatrizes. Como a inesquecível Sisi, da Áustria, protagonizada em filme por Romy Schneider, produzido em 1955 e que virou uma trilogia. E ficou ainda mais popular depois do musical “A Noviça Rebelde”, de 1959, estrelado por Julie Andrews.

Esta história é contada pelo Dr. Edmundo Garcia Agudo, com riqueza de detalhes e senso de humor, aos turistas e visitantes que vão conhecer sua fábrica de geleias instalada num amplo sítio, com árvores nativas e outra plantadas, na zona rural da Vila de Monte Verde. Ele é um espanhol de 76 anos e cabelos grisalhos, naturalizado brasileiro, aposentado, com PhD em Química Nuclear, Superintendente da CETESB em São Paulo, que serviu por 10 anos na ONU (na Agência Internacional de Energia Atômica, em Viena, Áustria) e foi professor do Mackenzie e da USP.

E o que tem a ver tudo isso com uma das geleias mais saborosas e comercializadas em todo o País? A curiosidade leva à outra pergunta inevitável: como um profissional com essa experiência, se tornou um especialista na fabricação de geleias?

Muito atencioso com todos, bem falante, Edmundo não esconde que, pessoalmente, nunca foi um apreciador de geleias. “Eu sempre as achava muito doces, até mesmo enjoativas, e nunca o seu sabor lembrava a fruta mostrada no rótulo”.
 Mas ele admite que essa percepção mudou quando foi trabalhar na ONU. Em Viena, ele se admirou com a qualidade das geleias austríacas. Em conversa com seus vizinhos, descobriu os segredos de preparação para transformar a geleia em algo realmente excepcional, sem excesso de açúcar, mantendo todo o sabor, cor e textura das frutas.

Ao se mudar para o Brasil, deixou de lado suas atribuições como consultor técnico-científico em Meio Ambiente e Energia Nuclear, temas em que trabalhou por 45 anos. As atividades exigiam muitas viagens internacionais e desgaste físico, e ele priorizou a qualidade de vida e a convivência familiar.

Decidiu então morar neste sítio, próximo a Monte Verde, um distrito de Camanducaia (MG), e ali construiu sua pequena fábrica para elaborar suas geleias, na beira do Rio Jaguari. Na produção, além de observar todos os requisitos legais, como alvará de funcionamento da Prefeitura, segue rigorosamente as exigências da Vigilância Sanitária, até mesmo excedendo-as, em virtude de seus conhecimentos acadêmicos em química.

Com sua experiência, não foi difícil para Edmundo adaptar as receitas e os procedimentos aprendidos na Áustria para a incrível variedade de frutas e componentes disponíveis no Brasil. Atualmente, são produzidos 16 sabores de geleias, todas com receita própria e fabricadas pessoalmente.

foto Marcos Vaz
Para percorrer as salas totalmente brancas da fábrica, e ver as várias etapas de preparação de uma de suas geléias, os visitantes têm que por uma touca na cabeça e usar uma proteção envolvendo os sapatos. Ali, uma funcionária corta, com uma faca, e impressionante habilidade, as cascas das tangerinas importadas da Espanha que em seguida são colocadas em enorme panela para a sequência do processo de produção.
foto: Marcos Vaz

As visitas à sua fábrica devem ser agendadas porque ele gosta de saber o número de pessoas e o horário em que virão, para poder dar toda a atenção. Na varanda de sua confortável casa em frente á fábrica, os turistas são convidados a provar os sabores especiais como morango, com pedaços da fruta, caju, mirtilo (blueberry), maçã com canela, maçã com gengibre, physalis, damasco, framboesa, laranja, tangerina e amora, entre os destaques. Todas com sabores marcantes de suas frutas selecionadas e consistência cremosa, que fazem da degustação uma experiência inesquecível.

A excepcional geleia de pimenta vermelha, por exemplo, ideal para acompanhar queijos e carnes, é responsável por quase 30% do total da demanda. Outro sucesso, a geleia de morango, utiliza frutos selecionados produzidos no Sul de Minas. O resultado é uma geleia única, com calda grossa de cor rubi e pedaços de morango incorporados, característica não encontrada em qualquer outro produto do mercado.

foto Marcos Vaz
Em seu sitio, Edmundo faz questão de mostrar a plantação de framboesas e de physalis. A primeira, além de ser a matéria prima para sua famosa geleia de framboesa, é também usada na fabricação da Framboesada, um doce de corte similar à goiabada, elaborado com 100% de framboesa, ideal para comer com queijos. Produz, ainda, polpa congelada de framboesa, physalis e amora, sem sementes e sem conservantes, que abastece os melhores restaurantes de Monte Verde, que assim podem incluir suco natural das frutas em seus cardápios.

E finalmente, Edmundo explica porque colocou o nome de Edelweiss nos rótulos dos potes que são comercializados. “Nossas geleias são feitas de uma forma artesanal, mas com muito profissionalismo e, principalmente, muito amor, em todas as fases desde a compra de frutas de qualidade, sua preparação e a embalagem”. O nome Edelweiss está devidamente patenteado.
foto Marcos Vaz

foto MarcosVaz
Edmundo tem como parceira a esposa Isa, com mestrado em Toxicologia Ambiental na USP, e também aposentada. Ela faz artesanatos diversos em caixas de MDF, com muita originalidade e sutileza, comercializados na Loja Edelweiss Artesanato na Galeria Suíça, no centro de Monte Verde, onde podem ser degustadas todas as geléias.
 Geleias Edelweiss. Galeria Suíça 936 Lj. 3. (35) 3438-1513 e 3433-5508. www.geleiasedelweiss.com.br







segunda-feira, 27 de março de 2017

Olavo Setubal, austero, autêntico e empreendedor


 Ainda estão bem vivas na memória de todos as baixarias que marcaram, pelo Pais, as campanhas dos diferentes Partidos para a eleição do presidente da República e, também, a última, que escolheu os prefeitos e vereadores com mandato em andamento. Agressões verbais, ofensas pessoais pesadas, declarações deturpadas e mentiras deslavadas inundaram a mídia, os sites e, principalmente, as redes sociais.
Tudo isso não é novidade para ninguém. E o meu personagem deste post, o ex-prefeito Olavo Setubal, em cuja assessoria de imprensa tive o orgulho de trabalhar, já havia colocado o dedo na ferida há quase 40 anos. Em entrevista ao Estadão, em maio de 1988, ao justificar as razões para desistir de sua candidatura ao governo de São Paulo, após ter administrado a cidade de 1975 a 1979, ele dasabafou:
"Numa conjuntura política em que a característica é uma campanha extremamente agressiva, num cenário brasileiro onde calúnia e ataques pessoais são a regra, eu vi que não tinha condições de disputar um cargo efetivo sem que as organizações nas quais participo viessem a ser agredidas e prejudicadas. Não agüento mais debate, nem palestra, nem mesa redonda, nada. Não atendo a entrevistas. Só me dedico às coisas da minha vida porque não tenho objetivo nenhum de voltar. Não quero viver a vida pública mais."
As organizações às quais Setúbal estava se referindo eram algumas agências do Banco Itaú, que foram depredadas durante manifestações de sindicalistas em protesto contra aquisições feitas pela instituição financeira que ele fundou e dirigiu antes de ser prefeito.
Comparando com todas as Administrações a que servi, ao longo de 40 anos, a de Setubal foi a mais austera e eficiente. Não se destacou pela construção de obras de grande visibilidade, mas priorizou o  setor de serviços à população e deixou um expressivo legado para a Capital paulista.
Um vozeirão e uma gargalhada sonora, que ecoavam em qualquer ambiente onde se encontrava, eram dois de seus traços marcantes. Muito autêntico, era especialista em frases de efeito. Ao tomar posse no cargo de prefeito, em 1975, disparou uma das mais famosas: "Gerir São Paulo é a mesma coisa que gerir uma Suíça e uma Biafra ao mesmo tempo".
Nomeado para o cargo em 1975, pelo governador  Paulo Egydio Martins ( a escolha dos governantes era por via indireta), poucos acreditavam no sucesso do engenheiro Olavo Setubal. Afinal, nunca havia exercido um cargo na administração pública. Mas era reconhecido pelo empresariado pela grande capacidade empreendora e visão que o levaram a  fazer do Itaú o segundo maior banco privado do País, superado apenas pelo Bradesco.
 
Minhas funções na Secretaria de Imprensa, comandada pelo jornalista Lázaro Elias Severino, e sempre no período da manhã (à tarde eu trabalhava na Folha), era acompanhar o prefeito em seus compromissos externos e cobrir as atividades realizadas no Parque do Ibirapuera, sede da Prefeitura.

Assim, testemunhei seu estilo firme e decidido de lidar com os problemas trazidos ao seu gabinete pelos moradores. Eles vinham com vereadores ou deputados. Nos despachos que eu presenciava, Setubal mantinha o diálogo em alto nível, mas perdia a paciência quando alguém exagerava no tom. Aí ele justificava porque era chamado de Trovão pelos assessores e funcionários do gabinete: levantava-se, dava um murro na mesa e soltava sua voz forte, que ecoava pela ante-sala do gabinete e até no grande hall onde ficavam as recepcionistas. E a audiência estava encerrada.  

Outro hábito, a exemplo do que fazia como empresário: nunca deixava documentos amontoados sobre a mesa de trabalho ou guardados em gavetas. Alias, elas não tinham gavetas. Lia e assinava, sem perda de tempo, todos os documentos que lhe eram entregues. 

O problema das enchentes o preocupava. Mas ele não fazia promessas ou anunciava planos mágicos para acabar com elas, como ainda é praxe em todas as administrações que o sucederam. Preferia ser realista. Ao inspecionar obras de combate às inundações, na região do Tamanduateí, foi franco e afirmou que não haveria como resolver o problema antes do ano 2000. O Tamanduateí hoje está canalizado, como outros rios e córregos na cidade. Mudamos de século, mas São Paulo continua sofrendo com as enchentes, ano após ano, apesar dos pesados investimentos que são feitos em todas as administrações.

Ao final de seus quatro anos de gestão, conforme publicado pela imprensa na época, Setúbal tinha a aprovação da maioria da população. E do mundo político também. Ficou notória sua habilidade no relacionamento com os vereadores da Câmara Municipal, de maioria do MDB, embora ele fosse da ARENA: nunca teve um projeto vetado. Inclusive um dos mais polêmicos, o que distribuia as linhas de ônibus da cidade.  
Do legado que deixou para São Paulo, estão a abertura das avenidas Sumaré e Juscelino Kubitschek, a conclusão da reforma da Praça da Sé, interligando-a com a Praça Clovis Bevilaqua, a reurbanização da área central com a construção dos calçadões no centro velho e no novo, a desapropriação e restauração do Edifício Martinelli.
Criou ainda a EMURB, Empresa Municipal de Urbanização, atualmente Secretaria Municipal de Serviços e Obras,.inaugurou a segunda fase da linha Norte-Sul do Metrô e iniciou a da Leste-Oeste, transferiu o Metrô e a Comgás para o governo do Estado e unificou vários departamentos de trânsito em uma única secretaria, a de Vias Públicas.
De março de 1985 a fevereiro de 1986, no governo Sarney, foi ministro das Relações Exteriores, por indicação do então senador Tancredo Neves. Deixou o cargo para tentar concorrer ao Governo do Estado, mas não conseguiu ser indicado e voltou às suas atividades como empresário e banqueiro no Grupo Itaú.
Olavo Setúbal, o 39º prefeito de São Paulo, faleceu em 27 agosto de 2008, aos 85 anos.
#olavosetubal #setubal #prefeituradesp #olavosetubalprefeito #SaoPauloantiga #prefeitura1975



terça-feira, 21 de março de 2017

Kennedy, Pelé, Golpe , Jumbo da JAL e o futuro na Expo’ 70
No período de 1962 a 1966, trabalhei na sucursal paulista de O Globo, na Rua 24 de Maio. À noite, ia para a redação da Folha, para cumprir um convênio entre as duas empresas. 
Na sucursal de O Globo, entre outras funções, acompanhava numa cabine os noticiários das principais emissoras de rádio. E foi assim que ouvi a notícia que chocou o Mundo, em 22 de novembro de 1963: o assassinato do presidente Kennedy, em Dallas.
Em 1964, quando aconteceu o golpe militar de 31 de março, a redação e a administração da sucursal já ocupavam todo o 19º andar do Edifício Zarvos, na esquina da Av. São Luiz com a Rua da Consolação. O acordo com a Folha fora suspenso e reiniciado, agora, com o Estadão, com sede em frente à sucursal de O Globo, na esquina das Ruas Major Quedinho e Martins Fontes, no mesmo prédio do antigo Hotel Jaraguá.
foto O Globo
Um passagem marcante  na sucursal, onde também cuidava da área de esportes, foi a cobertura do primeiro casamento de Pelé, com Rosemary Cholby, na manhã de carnaval de 22 de fevereiro de 1966. Estava entre 0s jornalistas credenciados e as imagens dos ato religioso foram feitas pelo fotógrafo Wilson Duarte Marcelino,  na casa do jogador.
 Em 1966 entrei com uma ação trabalhista contra O Globo. Fui demitido em agosto de 1967, num momento difícil, já casado e um mês após o nascimento de minha primeira filha, Denise. Mas, em dezembro do mesmo ano, a convite de Luiz Carlos Mesquita, do clã dos Mesquitas, donos do jornal, fui contratado como repórter do Suplemento de Turismo do Estadão.
Pelo Suplemento, conheci um pouco deste mundo velho, como enviado especial ou a convite. Além dos textos, fazia as fotos. A circulação do caderno era semanal, como até hoje, mas a edição em preto e branco, com oito páginas e no tamanho padrão do jornal.
 A primeira viagem ao Exterior, em 10 de outubro de 1969,  a gente nunca esquece. Foi para Nova York, a Big Apple. Na capa do Suplemento, uma das mais criativas até hoje, sob o título “Um tostão na terra do dólar”, imagens da cidade e uma charge em que eu apareço num selinho, com uma trouxinha de caipira nas costas. Nas páginas internas,a maioria  feitas por mim, mais de 30 imagens de diferentes pontos da ilha de Manhattan, como o Central Park, e de outros bairros, acompanhadas por novos selinhos e placas de sinalização e informação como  “Dont Walk” e “One Way”.
Outro fato inesquecível para mim e todos os brasileiros em 1970: a conquista da Copa do Mundo, no México. Eu estava em Nova York, a trabalho, quando soube que o Brasil havia vencido o English Team por  1 a 0, gol de Jairzinho. O restante da vitoriosa campanha eu vi por aqui, na primeira transmissão pela TV no Brasil.
Ainda em 1970, a convite da Japan Airlines (JAL), estive num vôo de apresentação para a imprensa  do 747, chamado de Jumbo Jet pelo seu tamanho gigantesco. Acabava de ser adquirido e foi um marco da aviação mundial na época. A versão tinha capacidade para mais de 400 pessoas. Fizemos um vôo de treinamento nos céus da cidade de Sacramento, na Califórnia, na costa oeste dos EUA.  Antes da decolagem, todos os jornalistas assinaram um termo de responsabilidade.   Mas o treinamento não teve qualquer problema, todas as manobras de pouso seguidas de arremetidas foram seguras. Só  um pouco de frio na barriga e dores no pescoço  por causa das curvas para a esquerda e para a direita que a aeronave fazia..
Voltaria a me encontrar, desta vez de forma mais confortável, com o espaçoso Jumbo da Japan Airlines, também em 1970, integrando um grupo de jornalistas, dos principais órgãos de comunicação do País, especializados em  turismo. A empresa aérea e a Associação do Turismo Japonês, com escritório em São Paulo, levaram os jornalistas para visitar a Expo’70, na cidade de Osaka. Além de promover, como destinos turísticos, outros centros importantes, como a capital, Tóquio, Kyoto ( ex-capital imperial), Nikko, Nara e Hakone, incluídas no roteiro da viagem. O primeiro modelo do Trem Bala, o Shinkansen, já corria pelos trilhos da fantástica rede ferroviária japonesa.
 A Expo’70, cujo tema foi “Progresso e Harmonia para a Humanidade”, mostrou, de março a outubro, em pavilhões de 76 países, os avanços que o Japão e o resto Mundo já produziam em todos os campos. E antecipou um pouco do que a ciência e a tecnologia proporcionariam para a humanidade no futuro e que hoje estamos vivenciando, inclusive no Brasil, que esteve representado.
Não poderia esquecer neste post que, a partir de 1968 o Estadão começou a ser censurado pelo regime militar. No período de 1970 a 1974,  tinha a presença permanente de oficiais na sua redação e também na do Jornal da Tarde.  À época, os leitores se habituaram a ver os textos censurados serem substituídos por versos de “Os Lusíadas”, de Camões e por receitas de bolos e doces, nas páginas dos dois veículos. Quando o Estadão comemorava seu centenário de fundação, em 4 de janeiro de 1975, a censura foi suspensa.
Mas, antes houve um atentado a bomba, jogada contra o hall de entrada do prédio. Foi de madrugada, a redação estava vazia e a edição do dia seguinte sendo impressa pelas máquinas instaladas na parte de trás do térreo, com vista para as Ruas Martins Fontes e da C0nsolação . Só o funcionário, seu Mário,  sentado junto à sua mesa, teve ferimentos provocados pelos estilhaços dos vidros das grandes janelas do hall.
A partir de 1973, mudanças na direção do Suplemento e fui para a reportagem Geral e, em seguida, para a editoria de Esportes. O Estadão se transferiu para o atual prédio na Av. Caetano Alvares,  bairro do Limão, em 12 de junho de 1976. A empresa passava por uma grave crise financeira, resultado dos empréstimos bancários para a construção da nova sede. E, como sempre acontece nestas situações, sobrou principalmente para a redação.
E assim, com mais 10 anos na bagagem, em 7 de junho de 1977, sem justa causa, deixei o Estadão. A família estava aumentada com a chegada da segunda filha, Patrícia, em 1971, mas a  situação financeira era bem menos preocupante do que em 1967. Menos de duas semanas depois, fui contratado como repórter da Folha da Tarde, da Empresa Folha da Manhã.

E aí iniciei uma nova experiência ma minha atividade jornalística, pois desde o dia 18 de fevereiro estava integrando a Assessoria de Imprensa do prefeito Olavo Setubal, a convite do jornalista Lázaro Elias Severino, seu Secretário de Imprensa. Comecei então a conviver com os dois lados do balcão. 
Histórias deste longo período serão contadas a partir do próximo  post. Aguardem e me acompanhem.
#jumbojet #expo'70 #censura #regimemilitar

quinta-feira, 16 de março de 2017

Banco, Folha de S. Paulo e O Globo

A meta fora traçada em Uberaba bem antes do baile de formatura: ir para São Paulo e iniciar minha carreira de jornalista na imprensa local. Já havia a rivalidade entre o Estado de S. Paulo, da família Mesquita, e a Folha de S.Paulo, da Empresa Folha da Manhã, que tinha outros dois títulos: Folha da Tarde e Folha da Noite. Até 1962, a empresa era comandada  por Caio de Alcântara Machado e depois pelos empresários Carlos Caldeira Filho e Octavio Frias de Oliveira, este proprietário de granja e da rodoviária na Praça Júlio Prestes. A família Frias, por meio de seus herdeiros, continua á frente do Grupo Folha até hoje.

No campo esportivo, domínio absoluto de  A Gazeta Esportiva, de Carlos Joel Nelli, criador da São Silvestre. Na redação, entre outros, a presença marcante de Thomaz Mazzoni, o Olimpicus, uma espécie de “papa” da crônica esportiva. A tradicional prova , que terminava na entrada do Ano Novo, hoje é disputada durante o dia, vista pela TV por todo o País e por milhares de pessoas nas ruas do percurso, na região central da cidade.

O emprego  na matriz do Banco Commercio e Indústria (Comind), do banqueiro Theodoro Quartim Barbosa, na Rua XV de Novembro, hoje sede da BOVESPA, me garantiu o salário para morar na pensão de Dona Maria dos Prazeres, uma senhora portuguesa que alugava quartos em sua velha, mas bem conservada casa na rua Canuto do Val,  em Santa Cecília.

A localização se mostrou estratégica: perto do prédio da Folha de S.Paulo, na Rua Barão de Limeira, com sua fachada, interiores, garagem e oficinas de pastilhas coloridas, onde consegui um emprego em caráter experimental, como repórter de Geral. 

Guardadas as devidas proporções, a São Paulo de 1961 ainda não tinha tanta violência no seu cotidiano urbano. E o trânsito, com as últimas linhas de bonde ainda circulando, não era o sufoco de hoje. Assim, e até para economizar, eu gastava a sola do sapato da pensão até o banco e, à noite, em trajeto mais curto, entre a Canuto do Val e a redação da Folha.


Havia um problema: as inundações que desde aquela época traziam o caos e transformavam toda a parte baixa da região do Largo do Arouche, meu caminho obrigatório, num rio. Quando isso acontecia, de terno e gravata, guarda-chuva e sapatos nas mãos, eu atravessava com a água nos joelhos para chegar à pensão, mudar de roupa, jantar e ir para o jornal, de onde só saia perto da meia-noite.  

Meu aprendizado prático de três anos no modesto Correio Católico, em Uberaba, apesar do abismo tecnológico com a Folha de S.Paulo, evitou que  caísse em alguns dos trotes que costumavam preparar para jovens e recém-chegados “focas” como eu.

As coisas transcorriam muito bem até que em 1º de dezembro explodiu uma greve dos jornalistas, por melhores salários. Apesar de vitoriosa, houve demissões, incluindo quem não tinha vínculo empregatício na empresa e cujo pagamento era feito por meio de vale.Terminou ali minha primeira passagem pela Folha.

Meu relacionamento com companheiros de outros jornais me levou para a sucursal paulista de O Globo, na Rua 24 de Maio. Foi meu primeiro contrato de carteira assinada em um grande jornal. Deixei meu emprego no Banco, em 1963, para trabalhar  “full-time”, ou seja, 10 horas por dia no jornal da família Marinho. Começava uma nova etapa da minha atividade jornalística em São Paulo.


Meu primeiro trabalho como assessor de imprensa foi na Administração Olavo Setubal... mas isso fica para o próximo post...   

#folhadespaulo#jornalismo#correiocatolico"uberaba

quarta-feira, 15 de março de 2017

olhar para o passado



O temor à Química, Física e Biologia, que via como desafios intransponíveis após a conclusão dos quatro anos do ginasial no Colégio Diocesano de Uberaba, dos Irmãos Maristas, foi decisivo para que eu escolhesse o Curso de Contabilidade na Escola de Comércio José Bonifácio e fugisse do Curso Científico.

O gosto pela leitura de jornais como o Correio da Manhã (RJ) e O Diário (BH), que meu pai assinava, e de a Gazeta Esportiva, do mestre Thomaz Mazzoni, e revistas como o Cruzeiro, de nomes como David Nasser, e a Manchete e  Manchete Esportiva, de expoentes como Nei Bianchi,  deram o empurrão para que eu definisse o Jornalismo como profissão e São Paulo como futuro destino.

O toque final veio com a aprovação no vestibular do Curso de Jornalismo, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino, das irmãs Dominicanas, criado em 1958 e o primeiro instituído no interior mineiro.










De noite, as aulas na Faculdade, e durante o dia o serviço militar no Tiro de Guerra 59 e o aprendizado prático como repórter do vespertino “Correio Católico”, da Arquidiocese local, após ser aprovado numa vaga para repórter.



Tinha 21anos quando 1961 amanheceu. A despedida de pais e irmãos, as bênçãos e recomendações de praxe para o primeiro filho a deixar o lar . E o embarque em uma velha Maria Fumaça, da Companhia Mogiana de Estrada de Ferro, que ligava Uberaba a Campinas, para São Paulo. A longa viagem se completou num trem da Companhia Paulista. Na mala, o diploma de Jornalismo, Dentro de mim, a confiança e também a certeza de que teria que enfrentar e vencer grandes desafios para conquistar o meu espaço no mais disputado mercado da mídia do País.

... na quinta feira tem mais .... " Inté lá ..."

#passado#jornalista#jornalismo